Entre dezembro e janeiro, aconteceu a escalada nos preços, com
investidores estrangeiros e locais buscando papéis do setor, não só por estarem
baratos na época, como para se protegerem de oscilações em outros mercados.
Adriana Mattos
O valor de mercado das empresas de capital aberto de consumo e varejo
- que chegaram a valer na bolsa a soma recorde cerca de R$ 520 bilhões ao fim
de janeiro de 2013 - dá sinais de recuperação. Depois de registrar perdas em
março e abril, quando o montante atingiu, ao fim daqueles meses, R$ 487
bilhões, essas companhias voltaram ao patamar do meio trilhão de reais, ao
alcançar ontem valor de R$ 500 bilhões, com base na cotação das ações das 32
empresas do setor, calculou o Valor Data. Mas analistas reforçam que faltam
sinais consistentes que indiquem tendência de subida no preço das ações -
naquilo que especialistas chamam em seus relatórios de "terreno
incerto" para as companhias.
Desde o fim de 2012, houve três movimentos claros. Entre dezembro e
janeiro, aconteceu a escalada nos preços, com investidores estrangeiros e
locais buscando papéis do setor, não só por estarem baratos na época, como para
se protegerem de oscilações em outros mercados. A Ambev, maior empresa da bolsa
em valor de mercado, chegou a valer soma recorde de quase R$ 290 bilhões em 31
de janeiro. "Muita empresa ficou cara, e como sempre acontece, veio o
ajuste nos preços e a maioria caiu", disse Pedro Galdi, estrategista-chefe
da SLW Corretora. Os meses de março e abril, terminaram com o valor de mercado
total das empresas apurando queda 6,5% em relação ao início do ano. Do total de
32, 17 fecharam o mês de abril valendo menos do que no fim de janeiro.
O que ajudou a jogar as cotações para baixo foi, além da queda
esperada após picos nos preços, os temores de novos repiques na inflação e de
aumentos na taxa básica de juros. Isso afeta as vendas e afugenta os
consumidores. Piora nas expectativas de resultados de balanços de primeiro
trimestre, traduzido na época como sinal de desaceleração do varejo
contribuíram para a saída de investidores dos papéis. Natura, Hering,
Guararapes e Magazine Luiza encolheram - e nessa conta ainda entrou fatores
pontuais de cada empresa, que interferem na cotação. "Com o crescimento do
volume menor, e as despesas pressionados pela inflação, diversos varejistas
sofreram compressão das margens de janeiro a março", escreve a equipe de
análise do Goldman Sachs, em relatório publicado ontem.
O que se vê agora, passado o baque, é o retorno de investidores, como
ocorre depois que o papel volta a ficar barato, e também por causa de novas
expectativas de menor pressão inflacionária no segundo semestre. A natureza do
próprio setor ajuda, formado por empresas com fundamentos sólidos, como Renner,
Pão de Açúcar e AmBev. Segundo cálculo do Valor Data, o valor de mercado das 32
companhias - que foi a R$ 487,3 bilhões ao fim de março e R$ 487,7 bilhões ao
fim de abril - atingiu R$ 500,9 bilhões ontem.
No acumulado deste ano, até ontem, o Ibovespa apura queda de 8%
enquanto as ações das empresas do setor de varejo e consumo registraram queda
menor, de 3,5%. AmBev, Pão de Açúcar, Lojas Renner e Arezzo estão no grupo
dessas companhias com alta acumulada no papel neste ano acima de 2%.
"Agora, todo mundo vai ficar de olho nos novos indicadores como o
desempenho do PIB no primeiro trimestre e o resultados da reunião do Copom, com
a nova taxa Selic, para ter clareza maior", disse Galdi. "Nas
avaliações que o mercado faz hoje, de um lado temos expectativa de um juros
maior, mas de outro, ainda há renda e desemprego estável".
A tendência, no entanto, continua pouco clara. Relatório da equipe de
análise do Goldman Sachs publicado ontem reforça que ainda existem sinais de
uma demanda cautelosa por parte dos consumidores - especialmente aqueles que
dependem de crédito para consumir. Ainda diz que o mês de maio foi
"satisfatório" mas com uma "notável ausência de entusiasmo"
das lojas, sendo que no mês acontece o Dia das Mães, segunda melhor data do
varejo.
No relatório, o Goldman Sachs elevou os preços-alvo de oito papéis
(Renner, Localiza, Raia Drogasil, Lojas Americanas, Hypermarcas, Hering,
Restoque e Natura) e cortou de cinco (Technos, Brazil Pharma, Magazine Luiza,
Marisa e B2W).
Nas palavras de outra equipe de análise, do Deutsche Bank, há um
"terreno incerto" para as companhias de varejo em toda a América
Latina, e as incertezas de um aumento no consumo no Brasil ainda persistem,
informa relatório de 7 de maio, assinado por Jose Yordan e Renata Coutinho. O
Deutsche recomenda a manutenção na carteira de nove empresas, como Ambev,
Marisa e Magazine Luiza, a venda apenas de B2W e a compra de papéis da Hering.
Ao se avaliar cada uma das 32 companhias, com base no preço da ação
pelo valor patrimonial da ação (P/VPA) é possível verificar quais empresas
estão sendo negociadas abaixo de seu valor de patrimônio, dentro de um mesmo
setor - o que ajuda a orientar análises dos papéis pelos especialistas. Não se
usa apenas esse indicador, mas um conjunto de dados - até porque há empresas
com problemas que apresentam baixa relação P/VPA. Ao se desconsiderar essas
companhias, e se avaliar a relação P/VPA, os destaques hoje são Renner, Arezzo,
Natura e Raia Drogasil.
Fonte: Valor Econômico / contadores.cnt.br
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